Dieta Low-Carb e câncer, até que ponto há relação?
- Paulo Henrique Mai
- 4 de mar.
- 3 min de leitura
As neoplasias, popularmente conhecidas como cânceres, são condições de saúde que podem variar em gravidade e afetar diferentes órgãos. No entanto, todas compartilham uma característica comum: o metabolismo das células do câncer está alterado.
As células neoplásicas tendem a se multiplicar rapidamente, e seu metabolismo também se torna acelerado, demandando uma quantidade significativamente maior de energia para sobreviver em comparação com células saudáveis.
Nosso organismo está adaptado para utilizar diferentes fontes de energia conforme as condições disponíveis. A fonte mais prática e imediata é a glicose, proveniente dos carboidratos. No entanto, mesmo em situações extremas, como passar uma semana sem alimentação em uma ilha deserta, não morreríamos de fome. Isso ocorre porque o corpo é capaz de recorrer a fontes alternativas de energia, como a utilização de proteínas e gorduras para suprir suas necessidades energéticas.
Quanto mais agressivo é um tumor, maior sua demanda por energia. No entanto, o metabolismo energético das células cancerígenas tende a se restringir conforme a gravidade da doença, de modo que muitas dessas células perdem a capacidade de utilizar fontes energéticas alternativas, dependendo quase exclusivamente da glicose.
E é aqui que surge uma questão interessante: se muitos tipos de cânceres dependem unicamente da glicose para sobreviver, uma dieta baseada predominantemente em outras fontes de energia poderia dificultar seu crescimento ou mesmo levar à morte das células cancerígenas por inanição?

Na teoria, sim. Na prática, depende. Como já abordamos em outras publicações do blog, a medicina não é uma ciência exata, mas sim probabilística. Indivíduos podem reagir de formas distintas ao mesmo tratamento, e diferentes tipos de tumores possuem características metabólicas próprias. Assim, a resposta a uma intervenção baseada na restrição de carboidratos depende de fatores como o tipo de tumor e o metabolismo energético intrínseco cada pessoa.
Por definição, uma dieta low-carb é aquela que contém uma quantidade reduzida de carboidratos em relação à alimentação ocidental padrão. Dentro dessa categoria, existem variações, desde abordagens que reduzem apenas os carboidratos refinados (mantendo frutas, legumes e vegetais ricos em amido) até dietas cetogênicas, que restringem a ingesta de carboidratos a ponto de ativar outras vias metabólicas. Caso uma abordagem alimentar low-carb seja considerada no tratamento do câncer, o mais indicado seria uma estratégia nutricional mais restritiva, sempre acompanhada por profissionais de saúde, como médicos e nutricionistas.
Outro ponto fundamental é que, ao lidar com condições complexas como o câncer, geralmente não se opta por uma única linha de tratamento. O mais comum é combinar diferentes estratégias, buscando o que há de mais eficaz em cada abordagem. Muitas vezes, são associadas terapias como quimioterapia, radioterapia, cirurgia e também intervenções nutricionais. Dessa forma, ainda que haja evidências sugerindo um potencial benéfico da dieta low-carb no tratamento do câncer, ela dificilmente será utilizada de forma isolada.
Pensando em diferentes estratégias, você pode saber mais sobre como a Cannabis pode contribuir no tratamento do câncer na publicação: Cannabis e tratamento do câncer: o que a ciência diz?
Conclusão
A relação entre dieta low-carb e câncer é uma hipótese promissora, mas que carece de evidências. Embora a restrição de carboidratos possa influenciar o metabolismo tumoral, a resposta é individual e depende de vários fatores. Assim, qualquer estratégia alimentar deve ser avaliada com cautela e sempre sob supervisão de um médico ou nutricionista. O tratamento do câncer é multifatorial, e integrar diferentes abordagens pode ser o caminho mais seguro e eficaz para melhores desfechos clínicos.
Paulo Henrique Mai
Médico - CRM/PR 38.165
Não custa tentar.