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Foto do escritorPaulo Henrique Mai

Como conhecer a resposta do nosso corpo a cada tipo de alimento?

Cada dia mais as pessoas tem descoberto e relatado intolerância ou hipersensibilidade a diferentes tipos de alimento. O leite e o glúten são alguns dos vilões da vez, mas a verdade é que cada pessoa tem um organismo único, e cada um de nós reage de maneira própria a cada tipo de alimento.


A maior parte de nós tende a manter padrões alimentares relativamente constantes ao longo de nossas vidas. Existe uma boa chance de que o padrão de café da manhã, almoço e janta que nós seguimos hoje seja o mesmo que seguíamos no ano passado, ou há cinco anos, ou até há uma década atrás. Se nós temos por hábito ingerir os mesmos alimentos há tanto tempo, fica até difícil imaginar como nosso corpo responderia se não consumíssemos as mesmas comidas que comemos sempre.


Muitas vezes sou questionado no consultório acerca de qual o melhor exame para descobrir se há uma intolerância a determinado tipo de alimento ou não, mas os exames que existem são, na maior parte, pouco sensíveis e, por consequência, pouco confiáveis. A melhor maneira de descobrir como nosso corpo reage a um tipo específico de alimento é restringindo-o temporariamente de nossa alimentação, registrar como ficamos sem ele e, após um período, reintroduzi-lo.


Testar novos padrões alimentares é, antes de tudo, uma forma de autoconhecimento. É descobrir novas formas de preparo para os alimentos que já conhecemos. É entender se tal comida nos deixa inchados ou não, ou então perceber com que tipo de alimento tendemos a ganhar ou perder peso.


Nessa publicação vou trazer um convite que costumo fazer aos meus pacientes durante as consultas: um convite para conhecermos melhor nosso corpo e as respostas do nosso organismo para cada tipo de comida que faz parte do nosso dia a dia.


Essa jornada de compreensão do nosso próprio corpo tem duração de 1 mês e pode nos auxiliar a lidar com questões como sobrepeso, obesidade, esteatose hepática, diabetes e hipertensão. Ah, e não estou tentando vender uma panaceia que serve para tudo no mundo, todas as condições citadas são, no final das contas, diferentes representações da síndrome metabólica, uma das condições de saúde mais presentes na sociedade atual.


A princípio, não há nenhuma restrição para que pessoas saudáveis sigam essa estratégia alimentar, mas é possível que pessoas que fazem uso de algumas medicações, como para diabetes ou emagrecimento, precisem de acompanhamento, pois por vezes se faz necessário reduzir a dose dessas medicações (o que convenhamos, é uma boa pedida).


Semana 1

A primeira semana consiste num período de "desintoxicação" do nosso corpo. O objetivo nesse primeiro momento é nos alimentarmos apenas dos alimentos menos agressivos para nosso organismo, que são aqueles de origem vegetal.


Nos primeiros três dias recomenda-se a ingesta apenas de vegetais crus, frutas e líquidos. Exemplos seriam cenoura ralada, beterraba ralada ou em cubos, rabanete, pepino, azeitonas, repolho, alface, agrião, rúcula, maçã, banana, ameixa, mamão, pera, acerola, abacaxi, uvas, kiwi, castanhas, amêndoas amendoim... a lista é grande.


O esperado é que nesses primeiros dias sintamos um pouco mais de fome e precisemos comer algumas vezes por dia, e que o intestino funcione com uma frequência maior que o habitual, com fezes menos endurecidas que o normal.


Como esses alimentos costumamos consumir sem sal, temos que tomar muito cuidado para não ficarmos com hiponatremia, nome técnico para os níveis baixos de sal no sangue. Os sintomas de hiponatremia são cansaço, falta de energia, indisposição, pressão baixa ou sonolência. Algumas pessoas acreditam que isso é falta de carboidratos, mas é só de sal. Incluir pelo menos em uma refeição do dia alimentos em conserva como pepinos, cebola ou azeitonas já resolve a questão.


Do quarto ao sexto dia adicionamos ovos e vegetais cozidos. Aqui entrariam ovos cozidos, fritos, mexidos, em conserva, suflê, batata, batata doce, mandioca, cenoura cozida, entre outros.


Semana 2

Na segunda semana, mantemos os mesmos alimentos da primeira semana, mas incluímos também carnes brancas, como de peixe ou de frango.


Vale ressaltar que algumas bebida alcoólica como cerveja tem em suas composições glúten, então, na segunda semana, caso desejem reintroduzir alguma bebida com teor alcoólico, deem preferência para o vinho. Lembrando que, mesmo numa alimentação com pouca gordura e carboidratos, bebida alcoólica pode prejudicar o processo de emagrecimento, independente de qual seja.


Semana 3

Na terceira semana nosso corpo já está bem adaptado a uma alimentação inteiramente voltada a "comida de verdade", e provavelmente já aprendemos receitas novas e diferentes maneiras de preparar nossos alimentos, para não ficarmos entediados. É, as comidas hiperpalatáveis que a indústria alimentar nos fornece são tão repletas de sabor que a gente precisa, as vezes, reaprender a comer comida de verdade para realmente sentir o gosto que cada comida tem... Mas voltando para a terceira semana, nesse momento acrescentamos carnes vermelhas, como carne de boi ou porco.


Semana 4

A partir da quarta semana já entendemos que nosso corpo se dá bem com comida, e que conseguiríamos sobreviver apenas com os alimentos que nossos antepassados comiam. Por milhares de anos a única opção de alimentos existente para os seres humanos eram os alimentos in natura. Nesses 21 dias já é possível notar que, mesmo comendo até a saciedade, com uma alimentação tendo por base frutas, legumes, verduras, ovos e carne a tendência é de que nos sintamos com mais energia e disposição, tenhamos um melhor padrão de sono, melhora significativa de sintomas como de ansiedade, perda de peso, além de melhora da diabetes e hipertensão.


O próximo passo é reintroduzir leite e derivados. Recomendo iniciar o processo com os derivados fermentados, como iogurtes e queijos. Esses alimentos tem um menor teor de lactose devido a fermentação. Após avaliar a resposta do nosso sistema digestivo, reintroduzir então alimentos não fermentados como o próprio leite, queijo mussarela e creme de leite.


Após finalizarmos esse um mês de experimentação com diferentes tipos de comida, podemos voltar a consumir os demais alimentos, inclusive aqueles que contenham glúten, como os feito a base de farinha de trigo, a exemplo de pão, bolos e macarrão.


Nesse momento, vale a pena rever nossas anotações sobre como nosso intestino, nossa saúde mental, nossa energia e disposição, nossa imunidade, nossa pele, e todo nosso corpo reagiu a cada mudança de alimentação. Em qual delas nos sentimos confortáveis, e qual tipo de alimento nos deixou estufados.


Espero que a leitura até aqui possa ter contribuído para melhor compreender como nosso organismo reage a cada tipo de alimento, quais são as comidas que nos fazem bem e quais devemos evitar. Em breve irei escrever algo sobre alimentação low-carb, mas, enquanto isso, vale o recado: não esqueçam do sal nos primeiros dias!


Paulo Henrique Mai

Médico - CRM/PR 38.165


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